domingo, 20 de janeiro de 2008

Obrigado, Guga!


Comecei a jogar tênis aos 7 anos. Na época, começo dos anos 80, o máximo era comprar o tênis e a camisa do Ivan Lendl. Era ver as partidas e os xingamentos do John McEnroe. Era ficar estupefato com o Borg e sua frieza, ganhando tudo em Roland Garros e Wimbledon.

O tempo passou, perdi minha mãe que era minha principal incentivadora no tênis ( meu pai incentivava também e muito) . Antes de sua morte, cheguei a ficar em 3o. lugar no ranking de Minas Gerais, da minha idade na época. Perdia apenas para dois: Marcos Leite , que foi campeão sul-americano de duplas no juvenil e 770o. do ranking da ATP em simples, e André Braga, irmão de Pedro Braga, que ainda está no circuito da ATP. Eram dois atletas do Minas, que tinham toda a estrutura possível ( tanto que um tem biografia no site da ATP...). Eu jogava em Araxá-MG, no interior, viajava 100 km pra treinar em Uberaba. Ou seja, acho que fui bem...

Comecei a jogar tênis apenas por prazer depois da morte de minha mãe.

Mesmo assim, mantive minha paixão pelo esporte, tanto que hoje aqui estou eu blogando sobre isso.

E o cidadão, o fera, o gente boa, o grande ídolo que me levou a isso se chama Gustavo Kuerten.
Me lembro perfeitamente daquele ano de 1997, do dia da final em Roland Garros, contra o Bruguera. Eu estava no apartamento de minha avó em São Paulo, sozinho, e assisti á toda a final sem desgrudar os olhos da tevê.
Gritei muito, chorei, fiquei num estado de alegria gigantesco, liguei para meu pai em Araxá, vibramos muito pelo telefone. Apesar de meu pai não ter sido um carrapato incentivador na minha breve carreira, como minha mãe foi, me incentivava muito, nas finanças nem se fala, e foi meu grande parceiro nas alegrias vividas ao acompanhar a carreira do Guga.
Depois ainda vieram mais dois títulos de Roland Garros, e um título da Masters Cup, sendo o único no mundo a derrotar Pete Sampras e Andre Agassi, dois mitos, num mesmo torneio. Era algo praticamente inacreditável para nós brasileiros. Quando eu puxo minhas lembranças da caixola dos anos 80 do tênis brasileiro, lembro de Luis Mattar, Carlos Kirmayr, Cassio Motta, Givaldo Barbosa...eram boas referências, chegavam a ser ídolos para mim, que era criança e jogava tênis. Mas todos eles não conseguiam furar o Top 20 mundial. O Thomaz Koch, o Luiz Mattar, e depois o Meligeni, furaram o Top 30. Mas o que o Guga conseguiu foi algo inacreditável. Não só furou o Top 20, finalmente, mas chegou a número 1, e ficou lá por 43 semanas. Como eu curti estas 43 semanas!
Além de tudo, é o tipo do cara que você quer ser amigo. Tá sempre bem humorado, dá autógrafo pra todo mundo, gosta de música, de surfe, torce para um time pequeno ( desculpa, Guga, hehehe!).
Quando começou sua saga com o quadril, certamente começou um ritual de sofrimento para os amantes do tênis no Brasil. Afinal, sabíamos que o auge do esporte não havia chegado, e nosso ídolo já estava saindo de seu próprio auge. Além de tudo, todos queríamos era vê-lo voltar e subir no ranking novamente. Como isso seria legal. Mas como desejar isso se o cara estava num estado de dor contínua ?
Por isso, acho que esta idéia de ano de despedida é uma idéia muito boa. O Tim Henman fez isso também. É ótimo para o público, que poderá curtí-lo uma última vez em cada evento, como profissional. E excelente para os organizadores, que terão um bom aumento de vendas de ingressos nos eventos em que ele participar.
Enfim, Gustavo Kuerten, nosso caro Guga, obrigado de coração.
Mil vezes obrigado.
Minha história pessoal tem nela registrada uma parte muito grande de alegria gerada por suas conquistas e seu exemplo.
No meu dia-a-dia de vida, lembro sempre de suas expressões na quadra, de seus momentos de superação. Mesmo não jogando tênis profissionalmente, aplico estas memórias na minha vida, sempre.
E por favor, um pedido: jogue o circuito dos veteranos!
Ver você jogar contra Borg, McEnroe, com frequência, será algo que o mundo do tênis certamente vai ter êxtase de presenciar.
E eu vou poder associar as alegrias que você me proporcionou, com as lembranças que Borg e McEnroe me proporcionaram quando eu jogava tênis querendo ser alguém que você se tornou.
Obrigado, e espero te encontrar nas praias de Floripa um dia destes.


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